Política

4 motivos por que o impeachment de Bolsonaro é improvável (pelo menos, agora)

19 jun 2020, 16:04 - atualizado em 19 jun 2020, 16:12
Jair Bolsonaro
Balança, mas não cai: apoio a Bolsonaro ainda o garante no poder, diz MCM (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

A prisão de Fabrício Queiroz, o avanço das investigações sobre o disparo em massa de fake news, conduzidas pelo STF, a prisão de apoiadores que pregam a intervenção militar e as relações frias com o Congresso não conduzirão, necessariamente, ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é da MCM Consultores.

“Ainda é prematuro afiançar que o bolsonarismo seguirá os passos do petismo e também será retirado do poder com a contribuição do aparato jurídico-penal”, escreveu a consultoria, em relatório enviado a clientes nesta sexta-feira (19). “Esse desfecho continua improvável para o governo Bolsonaro”, sublinha.

O motivo, segundo a MCM, é que não se enxerga um alinhamento tão perfeito das forças que poderiam antecipar o mandato do ex-capitão, quanto o visto no processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2018. Veja, a seguir, o que ainda mantém Bolsonaro no poder, apesar de todas as ameaças.

1. O procurador-geral da República não comprou o impeachment

Ao contrário do processo que cassou o mandato de Dilma, em que a Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público Federal tiveram uma atuação intensa, protagonizando a elaboração de algumas peças de acusação importantes para a derrocada da petista, o atual PGR, Augusto Aras, não embarca no impeachment de Bolsonaro.

Por ora, os procuradores se limitam a roçar as franjas mais extremistas do bolsonarismo, como mostra a prisão da militante Sara Winter, líder do grupo 300 do Brasil, nesta semana.

2. A Polícia Federal e as polícias estaduais têm outras prioridades

A apatia da Procuradoria-Geral da República é compartilhada pela Polícia Federal, epicentro da demissão do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Como se sabe, Moro conquistou fama e apoio do bolsonarismo, ao liderar a Operação Lava Jato, que culminou na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde que assumiu o ministério, contudo, Moro foi pressionado pelo presidente a trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, alegando que necessitava de alguém a quem tivesse acesso para poder se informar e tomar melhores decisões.

Despedida bombástica: Moro acusa Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Moro saiu do governo atirando, Valeixo caiu e, mesmo não emplacando Alexandre Ramagem, seu franco favorito, no cargo, Bolsonaro parece ter aquietado a corporação.

A MCM observa também que, nas polícias militares, subordinadas aos governadores, a simpatia por Bolsonaro é forte.

3. Bolsonaro tem a força

Ao contrário de Dilma, que caiu após quase 13 anos de governos petistas que desgastaram a legenda e reduziram suas bandeiras a trapos, o bolsonarismo ainda é forte.

A MCM lembra que, apesar da corrosão do apoio popular ao presidente, ele ainda conta com mais prestígio que Dilma, às vésperas do impeachment. Além disso, parte do empresariado e do Congresso está fechado com Bolsonaro, apesar das constantes caneladas.

4. Quem vai mexer com os militares?

Por fim, a consultoria lembra que, apesar de tudo, Bolsonaro ainda tem prestígio junto às Forças Armadas, e muitos militares da ativa e da reserva participam do governo.

Mesmo lideranças do Congresso sinalizam que o pessoal de verde-oliva é um elemento fundamental para manter ou apear o ex-capitão do poder antes do término de seu mandato.

“Por enquanto, a principal consequência do assédio jurídico ao bolsonarismo radical é emparedar as tentações golpistas presentes nas entrelinhas das dubiedades das declarações do presidente Bolsonaro e de alguns militares com assento no Planalto”, afirma a MCM.