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2021 não terá festa na Bolsa para celebrar fim da Covid-19, diz Credit Suisse, e eis por quê

29 abr 2020, 17:44 - atualizado em 29 abr 2020, 18:34
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Curva perigosa: para o Credit, não é possível ignorar os riscos econômicos em 2021 (Imagem: Unsplash/@svanhoy)

Volatilidade é o pomposo nome que se dá ao intenso sobe-e-desce dos mercados em tempos de incerteza, quando os ativos disparam diante da mais remota esperança, e despencam com o mais leve temor.

Neste momento, os mercados apostam tudo na premissa de que a economia mundial estará totalmente curada do coronavírus em 2021. Mas… isso pode ser um erro.

A avaliação é de Michael Lerner, do Credit Suisse. Em relatório obtido pelo Money Times, Lerner baseia sua análise na metodologia Holt, um banco de dados com mais de 20 mil empresas de todo o mundo, desenvolvido pela instituição suíça.

Lerner explica que o principal motivo do otimismo da maioria dos investidores e analistas decorre da forte intervenção dos bancos centrais para evitar maiores consequências do coronavírus na economia.

A empolgação está descolando os preços das ações, em todo o planeta, de seus fundamentos. Enquanto o valor dos ativos caminha para altas históricas, os dados da economia real só encontram paralelo na Grande Depressão dos anos 30.

“Esse consenso nas expectativas [de valorização de ativos] implica a recuperação do desempenho das empresas em 2021, e os valuations supõem nenhum dano permanente no retorno gerado pelas corporações, ou na taxa de crescimento a partir da pandemia”, cita.

Sinais de alerta

Mas, isso pode ser apenas excesso de otimismo. “Claramente, há algumas razões para permanecermos cautelosos depois de 2020”, diz o Credit Suisse.

O primeiro motivo é que os dados da economia real continuam muito fracos. A forte injeção de liquidez de bancos centrais, por meio de facilidades de crédito e corte de juros, leva os analistas a crerem que é apenas questão de tempo para que a oferta de dinheiro reative os negócios.

Ainda assim, Lerner insiste que “as recentes reavaliações do mercado têm levado ao maior descolamento entre os valuations e os ciclos econômicos desde, pelo menos, 1992”.

Quando se incorporam variáveis econômicas, como inflação e juros, à análise do múltiplo P/L (preço-lucro), chegando ao “P/L Econômico” (Economic P/E, em inglês), um dos mais usados no mercado de ações, a conclusão do analista é que o “descolamento entre Wall Street [o mercado de ações] e Main Street [a economia real] aumenta as apostas na certeza (ou esperança?) de que a economia pode se recuperar”.

Como segundo argumento, o Credit Suisse afirma que as previsões de lucro dos próximos anos, muito provavelmente, cairão. Isso aproximaria ainda mais a relação P/L do pico da bolha das ações de internet nos anos 90.

O banco suíço observa que, no geral, o mercado conta com uma acentuação recuperação da economia em 2021. Isso significaria “a mais rápida recuperação dos últimos 20 anos”.

Por tabela, “uma recuperação mais branda gera, com certeza, um risco de redução nas expectativas do mercado e, portanto, dos valuations”.

“Zumbis”

Por último, o Credit Suisse observa que a pandemia pode causar danos permanentes à capacidade de gerar valor aos acionistas, que não estão contemplados nos modelos de analistas do lado sell-side (corretoras e consultores de investimentos).

Consumo Coronavírus Máscara
Efeito colateral: dívidas pesadas podem criar “companhias zumbis”, incapazes de fazer nada além de administrar credores (Imagem: Agência Câmara/Ricardo Stuckert)

Lerner ressalta que, mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê um crescimento de 5,8% para a economia mundial em 2021, adverte que a projeção pode se perder, diante de um elevado número de falências.

O Credit Suisse acrescenta que uma empresa nem precisa fechar as portas, para atrapalhar essa tão esperada retomada econômica. Basta que esteja tão endividada, que não consiga fazer mais nada, além de administrar credores.

“Mesmo sem um calote corporativo, há o risco de vermos um crescente número de companhias-zumbis, atreladas a grandes dívidas”, resume o analista.

Segundo o banco de dados do Credit Suisse, nos países desenvolvidos o valor agregado das dívidas corporativas já atinge seu maior nível, desde a crise financeira global de 2008.

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