As preocupações dos produtores de Goiás para a velha e nova safra; ‘Vamos ver um aumento de até 35% para custos’

A safra 2024/2025 de soja em Goiás encerrou com a maior média de produtividade e o maior volume de produção da história, totalizando cerca de 19 milhões de toneladas. O estado foi o terceiro maior produtor do país neste ciclo.
No entanto, apesar dos bons números, os produtores seguem preocupados. Em conversa com o Money Times durante a Tecnoshow Comigo, Clodoaldo Calegari, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Goiás (Aprosoja-GO), alertou para os altos níveis de endividamento no campo.
“Apesar do bom volume, a gente vem de um endividamento bem elevado e com a projeção da nova safra, vamos ter custos bem mais elevados do que o atual. O principal desafio para 2025/2026 é fazer a composição de custos e buscar recursos para conseguir fechar os insumos da próxima safra. Em relação com 24/25, há um aumento de 30%-35% para fertilizantes”.
Além disso, Calegari destacou a dificuldade para aquisição de alguns produtos oriundos da China e da Índia, bem como os altos royalties cobrados por empresas de sementes.
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A guerra comercial e os efeitos para soja
Sobre os impactos da guerra comercial desencadeada por Donald Trump, o presidente da Aprosoja-GO avaliou que o cenário é complexo e cheio de variáveis.
“Os prêmios de importação subiram na última semana e o câmbio também teve uma alta, mas isso se deve às questões geopolíticas, a moeda brasileira é a quarta que mais se desvaloriza no mundo, então não é uma questão tão positiva assim, e significa que nossa economia está fragilizada. Por outro lado, a bolsa de Chicago cai, o que afeta também nossa precificação que vem do câmbio, prêmios de exportação e preços logísticos”.
A orientação da entidade aos produtores é de atenção às oportunidades de mercado, aproveitando momentos em que câmbio, prêmios e bolsa estejam favoráveis para realizar o chamado “travamento de preços”. “No fim das contas, pode haver um acordo entre China e EUA”, completou.
As preocupações para os produtores de Goiás
Eduarda Van Lieshout, produtora rural em Hidrolândia, a 35 quilômetros de Goiânia, destinou 916 hectares à soja e 600 hectares ao milho safrinha nesta safra de 2024/2025.
“Para a soja, não podemos reclamar, tivemos um ciclo bem abençoado, que superou nossas expectativas em termos de produção. Já para o milho, estamos sentindo um pouco mais a falta de chuvas, com um estresse hídrico”.
Mesmo com o bom desempenho da soja, ela reforça que os custos continuam sendo uma das principais preocupações. “Apesar da boa produção, estamos em um ano bem apertado, já que há 3 anos temos custos bem elevados. O preço da soja há 3 anos era excelente. Precisamos de uma safrinha muito boa para ‘passar de ano’ e não depender de bancos”.
Um produtor de Palmeiras de Goiás, que preferiu não se identificar, plantou 400 hectares de soja e também relatou os impactos da volatilidade do mercado.
“Vimos um mercado muito volátil e a gente sempre espera uma alta que nunca chega. O clima pelo menos ajudou nossa produtividade e alcançamos 73 sc/ha. Para o milho safrinha, temos visto um bom desenvolvimento também”.
Entre suas preocupações estão a reforma tributária e a guerra comercial. “Não conseguimos nos planejar por conta da reforma tributária. Não temos como fazer um planejamento a longo prazo, pegar um financiamento, porque não sabemos o que vai nos custar no final. Além disso, temos um dólar que varia muito
A reforma tributária, juros elevados e a importância da armazenagem
João Emílio Ribeiro Valongo, contador e fundador do Valongo Escritório Rural, presta serviços para produtores da região, desde emissão de recibos até planejamento de sucessão patrimonial. Segundo ele, o alto custo de produção segue como um dos maiores entraves, agravado pela falta de reação dos preços da soja.
“O milho teve uma boa reação, em R$ 80 por saca, mas acho que isso veio em função do fim dos estoques e cumprimento de estoques. Temos orientado nossos clientes a guardar a produção e não vender tudo de uma vez”.
Valongo cita a reforma tributária como um problema adicional para os produtores. “É o agro que paga a conta do desperdício, da falta de controle do governo. O IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) são impostos que vão encarecer ainda mais os custos a partir de 2025/2026”.
Outra questão que ele lembra é que, em anos e governos anteriores, havia juros subsidiados de 6% a 7%, enquanto os juros hoje estão em 18%.
“Você tem 18% de juros do banco com mais 2% a 3% que você paga de planejamento com o engenheiro-agrônomo e mais os seguros, você sai devendo entre 22% e 23%. Imagina pegar R$ 2 milhões e já sair devendo mais R$ 440 mil”, exemplificou.
Para Valongo, uma solução seria investir em armazenagem própria. “Não precisa ser um silo muito grande, mas é preciso para você conseguir vender na melhor hora. Mas, além disso, o juro de financiamento está muito caro, então também é inviável fazer esse investimento em silo. Precisamos de um Programa Nacional de Armazenagem”.