2023 pior? Mercados americanos olham para dois indicadores cruciais na semana em busca de respostas
Os mercados americanos voltaram da folga de ano-novo nesta terça-feira (3) tentando firmar-se em terreno positivo, mas desconfianças com as economias continuam por aí. Aos montes.
Para os que tentaram esquecer o fantasma da recessão, a mensagem da economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Kristalina Georgiev, feita em programa da CBS, é um duro chacoalhão de realidade: “esse ano [2023] será muito mais duro para a economia do que o ano que deixamos para trás”.
O porquê é dito por ela: EUA, União Europeia e China — que respondem pelos maiores PIBs do mundo — estão desacelerando ao mesmo tempo. Com isso, Kristalina entende que até 1/3 das economias mundiais possam encolher em 2023, colocando “centenas de milhões de pessoas sob algum estado de recessão“.
Mas ao contrário da Europa, que enfrenta as prolongadas consequências da guerra, e da China, que ainda tenta distensionar a política de Covid Zero, os Estados Unidos podem acabar se safando do ‘pouso forçado’ causado pelo aumento de juros.
O plano de fuga depende, na expectativa dos investidores, de um fator crucial: uma posição menos agressiva do Federal Reserve daqui em diante.
É em busca de sinais mais positivos que as atenções se voltam para a divulgação da ata da última reunião do Fomc, em dezembro, e para os dados da folha salarial (payroll). Saiba o que esperar.
Mercados americanos estressados e o Fomc
A ser divulgada nesta quarta-feira (4) às 16h (de Brasília), a minuta da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deve exprimir o racional por trás da decisão de dezembro e, principalmente, pistas do que pode vir na reunião de fevereiro.
A despeito de alguns acenos de Jerome Powell em prol de aumentos mais discretos, há bastante estresse com a possibilidade de que os juros terminais ultrapassem os 5% em 2023, conforme indica o gráfico de projeções dos membros do Fed. A taxa atual está no intervalo de 4,25-4,50%.
Em mantendo o mesmo tom dos últimos comunicados, a ata de dezembro deve voltar a insistir no combate à inflação, atualmente em 7,1% no acumulado dos 12 meses, como prioridade.
De acordo com 70% das apostas dos Fed Funds, o Fomc deve recorrer a um aumento de 0,25 ponto percentual na primeira reunião deste ano, no mês que vem, como próxima etapa do ciclo.
Payroll
Ainda na agenda dos EUA, o payroll será divulgado na sexta-feira (6) durante a parte da manhã, com a expectativa de mais de 200 mil vagas de emprego criadas em dezembro — no que deve ser mais uma forte leitura do dado.
Apesar dos números oficiais denotarem um crescimento de vagas, a leva de demissões que começou nas empresas de tecnologia e se dissemina pouco a pouco para outros setores da economia mostra que o mercado de trabalho americano começou enfim a sentir os efeitos do aperto monetário inaugurado há nove meses.
Ainda assim, os mercados devem continuar olhando com preocupação a expansão da carga salarial como fonte de inflação na economia com efeitos no curto e médio-prazo.