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2023 confirma virada de fase no ciclo de preços do boi gordo, aponta analista

15 mar 2023, 11:38 - atualizado em 15 mar 2023, 12:01
Minerva
O aumento no número de abate de fêmeas, que foi retomado em 2022, resulta em uma queda nos preços dos animais de reposição; entenda(Imagem: Pixabay/ericojuniormorais0)

Foi divulgado nesta quarta-feira (15) o levantamento das Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais, do Leite, do Couro e da Produção de Ovos de Galinha do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, que ajuda a entender a tendência de preços do boi gordo, por exemplo.

No ano passado, foram abatidas 29,8 milhões de cabeças de bovinos sob algum tipo de serviço de inspeção sanitária (federal, estadual ou municipal), com alta de 7,5% frente ao ano anterior.

Esse resultado interrompeu a série de dois anos consecutivos de retração na atividade. Todos os meses apresentaram variação positiva em relação aos respectivos períodos de 2021, com destaque para setembro, quando foi registrado um aumento comparativo de 33,6%.

Em 2022, o abate de fêmeas foi retomado após três anos de retração, com alta de 19,1% ante o ano anterior. Nesta comparação, houve queda de 8,5% nos preços médios do CEPEA/Esalq.

O aumento da atividade foi acompanhado das exportações recordes de carne bovina in natura (1,99 milhões de toneladas), na série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

De acordo com Felipe Fabbri, analista de mercado e da cadeia de produção animal na Scot Consultoria, o aumento no abate de fêmeas já era esperado, o que confirma, segundo ele, a virada de fase no ciclo pecuário de preços, já que os preços dos animais de reposição começaram a operar em baixa a partir do 2º semestre de 2021.

Com isso houve um desestímulo em função dos preços menores da reposição e de custos elevados, que resultou no descarte de fêmeas.

“Esse movimento é natural. Nós vivenciamos, entre 2019 e 2021 um movimento oposto, ou seja, de retenção de fêmeas, estimulado pela menor disponibilidade de bezerros no mercado à época, e que resultou no aumento da atratividade da cria de 2019 a 2021, com 2021 sendo o ano com o menor abate de fêmeas registrado desde 2003. Com isso, é de se esperar que essa retenção de 2019 a 2021 resulte em maior oferta de bezerros e gado de reposição, o que explica o maior descarte de fêmeas no ano passado e perspectiva de manutenção do quadro de descarte de fêmeas em 2023″, avalia Fabbri.

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Influência no preço do boi gordo

Para o analista da Scot Consultoria, o momento atual no preço do boi gordo é de baixa e deve seguir em 2023.

“O que isso significa? Em 2022, nós tivemos um aumento de 4 pontos percentuais em relação a 2021 no abate de fêmeas, e isso, com o maior volume de fêmeas sendo abatidas ao longo de 2023, é de se esperar uma pressão baixista com relação à arroba”.

Segundo ele, o abate de machos trabalha inalterado, já que tivemos um aumento pouco expressivo, e o que pesa na questão da oferta é o avanço no abate de fêmeas, que faz com que a cotação da arroba do boi gordo trabalhe pressionada, movimento vem puxado pelas categorias mais jovens.

“Um bezerro, desmamado, há cerca de 2 anos, chegou a ser negociado a R$ 3.500, uma explosão de preços naquele período, o que incentivou o produtor a reter fêmeas no seu plantel, e o cenário hoje é o oposto. Essa oferta de bezerros está chegando ao mercado e os preços para reposição tem desestimulado a manutenção de fêmeas no rebanho por mais tempo. Isso não significa que vamos acabar com as matrizes ou cessar com a produção na cria, mas significa que não devemos ver um cenário daquela fêmea que entra em protocolo de inseminação 1 ou 2 vezes no ano”, finaliza.

O abate de 2,09 milhões de cabeças de bovinos a mais, ante 2021, foi causado por aumentos em 23 das 27 UFs. Mato Grosso continuou liderando o ranking do abate de bovinos em 2022, com 15,8% da participação nacional, seguido por São Paulo (11,5%) e Mato Grosso do Sul (11,%).

Mercado

As ações da Minerva Foods (BEEF3), que conta com toda sua produção na América do Sul concentrada no Brasil, estava sendo negociada por volta de R$ 11,24 às 10h59, queda de 0,18% em relação ao valor de abertura de R$ 11,15.



Os papéis da Marfrig (MRFG3) também registraram recuo no mesmo horário, de 0,89%, com valor de R$ 6,72.