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2022 foi o pior ano do Ibovespa? Governo Lula deve ser desafiador para o índice

27 dez 2022, 9:00 - atualizado em 20 dez 2022, 13:06
JCP, Mercados, proventos, Ibovespa
Ibovespa sofreu com inflação e eleições em 2022, afirma especialista (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

2022 pode não ter sido o pior ano do Ibovespa (IBOV), mas também não foi nada fácil. É o que afirmam os analistas de mercado e o que mostram os números do ano. Até o dia 18 de dezembro, o principal índice da Bolsa brasileira acumulava queda de cerca de 2%.

Os dois melhores meses do ano foram janeiro e agosto, quando o índice subiu 6,98% e 6,16%, respectivamente. Já os dois piores foram julho e abril, com quedas de 11,50% e 10,10%.

A maior alta do Ibovespa foi em abril, quando fechou o dia valendo 121.628 pontos. A menor cotação do índice foi em julho, a 95.267 pontos.

Veja o desempenho mês a mês do principal índice da Bolsa brasileira*:

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Ibovespa mês a mês em 2022 (Imagem: Reprodução/ Investing.com)

O que abalou o Ibovespa em 2022?

A inflação esteve lado a lado do Ibovespa em 2022, não apenas a do Brasil mas a de todo o mundo. De acordo com analistas, a forma como os bancos centrais globais lidaram com o avanço da inflação no ano foi uma das maiores preocupações do mercado.

O sócio da Nexgen Capital, Marcos Moreira, explica que essa inflação — ainda persistente — é consequência do excesso de estímulos fiscais e monetários injetados nas economias mundiais em 2020 e 2021, a fim de combater a recessão causada pela Covid-19.

O que também preocupou os agentes do mercado foi o choque de ofertas no mundo. Dois grandes eventos contribuíram para tal cenário: o conflito entre Rússia e Ucrânia e a política de Covid Zero na China.

Tanto Rússia e Ucrânia quanto China são países exportadores de commodities — a China, além disso, é uma grande importadora. Por isso, a redução de oferta de insumos ocasionada pelos eventos citados acima foi responsável por parte da pressão inflacionaria mundial.

Por último, mas não menos importante, as eleições presidenciais carregam parte da culpa da deterioração dos mercados locais. Moreira, da Nexgen, explica que, à medida que o novo governo se mostra mais inclinado a aumentar gastos públicos, os investidores se mostram mais cautelosos.

Quem saiu ganhando e quem perdeu em 2022?

Diante de um ano “difícil” para o Ibovespa, o especialista da Nexgen destaca que os setores de tecnologia e varejo — ambos sensíveis ao cenário inflacionado e à alta dos juros — foram os que mais sofreram junto ao índice.

Do outro lado, o ramo de energia foi o que conseguiu manter consistência na geração de caixa e previsibilidade, dado os longos contratos. Além disso, o setor contou com uma forte na distribuição de dividendos.

Maiores altas do Ibovespa

As ações da Cielo (CIEL3) lideram as altas do Ibovespa em 2022. Até o fechamento de 18 de dezembro, a empresa registrava avanço de 115,49%.

Para o gestor da Mantaro Capital, Pedro Gonzaga, a alta é mais do que justificada, sendo que o ponto de partida era um preço deprimido. Gonzaga também chama atenção para a qualidade do negócio Cateno.

Na análise do UBS BB, ainda é um bom momento de entrada para o investidor na ação. Kaio Prato e equipe de analistas afirmam que o desempenho recente do papel fornece um ponto de entrada atraente, devido aos resultados operacionais sequencialmente melhores e à avaliação da empresa.

Empresa Ticker Alta (%)*
Cielo CIEL3 115,49
PRIO PRIO3 71,36
BB Seguridade BBSE3 68,33
Hypera HYPE3 56,99
Assaí ASAI3 51,34

Maiores quedas do Ibovespa

Do outro lado, as ações do IRB Brasil (IRBR3) lideram as quedas do Ibovespa neste ano, até o fechamento de 18 de dezembro. A resseguradora registra baixa de 81,34%.

Segundo o JP Morgan, a empresa decepcionou o mercado com redução nos prêmios emitidos, diminuição nos prêmios ganhos e elevada sinistralidade.

No entanto, o momento ruim, que começou em 2020, está próximo do fim. “Os múltiplos são mais consistentes com a faixa justa estimada em torno do valor contábil, o que, acredita-se, é consistente com uma classificação neutra”, afirmam.

Para 2023, a B3, Bolsa de Valores brasileira, excluiu as ações do IRB da segunda prévia da composição do índice, que entra em vigor a partir de janeiro. A tendência para os ativos após uma eventual saída do índice é impacto no volume de negociação, diz o analista da Benndorf, Niels Tahara.

Empresa Ticker Queda (%)*
IRB Brasil IRBR3 81,34
Americanas AMER3 73,70
CVC CVCB3 70,49
BRF BRFS3 70,43
Qualicorp QUAL3 68,54

O que esperar de 2023?

Para 2023, o  principal ponto de atenção para o Ibovespa será a condução da politica fiscal, que impacta direta e indiretamente na atividade econômica do país, destaca o especialista da Nexgen.

“À medida que a inflação mostra sinais de reversão, o Banco Central pode cortar juros, mas esse corte depende da condução da politica fiscal”, avalia.

Se o governo Lula aumentar gastos e tiver menos compromisso com a responsabilidade fiscal, o risco brasil deve crescer e preocupar o mercado.

*Dados coletados em 19 de dezembro de 2022.