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2020, o ano das finanças descentralizadas

08 jan 2020, 15:34 - atualizado em 08 jan 2020, 15:34
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Finanças descentralizadas (DeFi) se referem ao ecossistema composto de aplicações financeiras sendo desenvolvidas nos sistemas de blockchain (Imagem: Getty Images/iStockPhoto)

Um dos principais assuntos em 2019 foi o surgimento das finanças descentralizadas (DeFi), um novo tipo de finanças executado em protocolos sem confiança (“trustless”) sem a necessidade de intermediários financeiros.

Hoje, usuários de criptoativos ao redor do mundo podem fazer uso de serviços financeiros tradicionais como crédito, empréstimo, negociação e investimento de forma descentralizada e transparente. Tudo o que você precisa é de uma conexão à internet e de uma carteira de criptoativos.

Em 2020, espera-se que esse novo segmento do mercado continue a crescer.

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As DeFi surgiram para revolucionar a forma como são feitos os pagamentos, dando mais liberdade, governança e segurança à população mundial (Imagem: Medium/Vladislav Shabanov)

O surgimento das DeFi

Bitcoin foi a primeira implementação DeFi. Permitiu que usuários realizassem transações financeiras com outros indivíduos sem a necessidade de intermediários financeiros na era digital. Bitcoin e criptomoedas semelhantes foram a primeira onda das DeFi.

A segunda onda das DeFi foi impulsionada pelo blockchain da Ethereum, que acrescentou outra camada de programabilidade a seu blockchain.

Agora, no início de 2020, pessoas (e empresas) podem fazer a contração, concessão, negociação, investimento, hedge e armazenar criptoativos de forma “sem confiança” graças ao número crescente de aplicações DeFi na rede da Ethereum.

De acordo com dados coletados pela DeFi Pulse, o equivalente do ether em dólares americanos presente em protocolos DeFi cresceu de US$ 293 milhões em janeiro para mais de US$ 687 milhões no fim de dezembro de 2019.

Fazendo uso dessa métrica como referência para estimar o valor do mercado DeFi, podemos ver que esse setor explodiu em 2019, crescendo em mais de 130%.

O equivalente do ether em dólares americanos presente em protocolos DeFi cresceu de US$ 293 milhões em janeiro para mais de US$ 687 milhões no fim de dezembro de 2019. (Imagem: DeFi Pulse)

O maior contribuidor ao valor total presente das DeFi foi a MakerDAO, que desenvolveu a stablecoin dai.

A plataforma descentralizada de investimento de criptoativos Synthetix, os protocolos de empréstimo Compound e InstaDapp e a corretora descentralizada Uniswap constituem a maioria do valor restante no mercado das finanças abertas.

O mercado DeFi amplamente atende muitas das necessidades financeiras mais urgentes (Imagem: Pixabay/geralt)

O que o mercado DeFi oferece atualmente?

Hoje, existe uma vasta gama de aplicações DeFi que fornecem muito do que é fornecido pelo sistema financeiro tradicional e centralizado.

Desde contrações e concessões a investimentos e seguros, o mercado DeFi amplamente apoiado pela Ethereum atende muitas das necessidades financeiras mais urgentes das pessoas.

As principais ofertas do DeFi incluem:

ganho de lucros sobre criptoativos detidos se tornou mais fácil do que nunca, graças ao protocolo Compound e a dapps como Dharma e Celsius;

conversão de seus ethers para outros tokens da Ethereum pode ser feito de forma segura e privada em corretoras descentralizadas como Uniswap ou IDEX;

hedge do seu portfólio de criptoativos é possível graças a plataformas descentralizadas de negociação de derivativos como dYdX;

cobertura contra falha de contratos inteligentes se tornou possível graças à seguradora Nexus Mutual;

apostas em resultados de eleições, eventos esportivos ou se a previsão do preço do bitcoin feita por John McAfee vai se tornar realidade podem ser feitas em plataformas de previsão de mercado como a Augur;

– armazenamento de fundos em stablecoins lastreadas por criptomoedas durante períodos de extrema volatilidade agora é tão fácil quando comprar dai.

Há muitos setores a serem explorados para que as DeFi tenham ainda mais abrangência no mundo cripto (Imagem: Bitcoinist)

DeFi em 2020

Nos próximos doze meses, esperamos ver a expansão da lista de ofertas DeFi.

Contração e concessão se tornaram grande parte do mercado DeFi em 2019. A capacidade de ganhar juros sobre cripto tem sido muito atrativa para “hodlers” (detentores), demonstrada pelo aumento em empréstimos lastreado por cripto durante o ano passado.

Em 2020, espera-se que a quantidade de dinheiro detida em protocolos de empréstimo aumente devido a diversificação dos investidores a longo prazo em ofertas influenciadas por juros, especialmente se o mercado falhar em atingir as mesmas altas de 2017/2018.

Por outro lado, negociadores ativos de criptoativos estão se tornando cada vez mais interessados em ofertas descentralizadas de negociação.

Sob a ótica da ameaça eterna das invasões a corretoras (centralizadas), o crescente nível de segurança a fundos que as plataformas descentralizadas de negociação oferecem devem resultar não apenas em um aumento no número de usuários de dapps de negociação, mas também no número de plataformas e corretoras de negociação não custodial disponíveis.

MakerDAO é a empresa que mais se destacou em 2019 no ramo das finanças descentralizadas com o lançamento de sua stablecoin DAI (Imagem: Medium/Reserve Research Team)

Stablecoins também foram outro grande assunto em 2019, que teve stablecoins lastreadas por fiduciárias, como tether e usdc, atingirem níveis recordes em volume de negociação.

Além disso, dai da MakerDAO conseguiu se estabelecer como a principal stablecoin do mercado que não é lastreada por uma fiduciária.

Espera-se que stablecoins continuem sendo parte integral das DeFi ao longo dos próximos meses porque oferecem uma porta de entrada para criptoativos e estão prontas para entrar no mercado de pagamentos digitais.

Também pode-se esperar pelo lançamento de novos tipos de produtos relacionados a seguros, investimentos e tokenização de ativos.

Por exemplo, Staked, fornecedor de “staking-as-a-service” (SaaS), lançou RAY, Robô-Conselheiro para Rendimento (Robo-Advisor for Yield), protocolo descentralizado e baseado na Ethereum que aloca, automaticamente, ether, usdc ou dai nos protocolos DeFi influenciados por juros e de maior taxa de rendimento.

Espera-se que tipos parecidos de ofertas aumente assim como a demanda por produtos de investimento baseados em cripto.

É provável que o mercado de seguros que, até agora, não foi explorado por soluções baseadas em contratos inteligentes, também tenha novas ofertas de produtos.

Por exemplo, seguro contra invasões a corretoras seria um forte caso de uso para seguros DeFi enquanto pools de seguro de pessoa para pessoa (peer-to-peer) seriam outra área para a qual o mercado DeFi poderia fornecer serviços.

Tokenização é o processo de emissão de um token de blockchain (especificamente, de um security token) que represente, digitalmente, um ativo real e negociável (Imagem: Imghulk)

Tokenização de ativos, caso de uso de blockchain muito discutido, também é um espaço no qual mais produtos DeFi poderiam ser lançados. Você também já pode investir na gama de ativos tokenizados por meio de tokens sintéticos. Nos próximos meses, espera-se pelo surgimento dessas ofertas.

Pode-se dizer que o maior obstáculo a ser enfrentado pelo mercado DeFi em 2020 são as regulações.

Embora protocolos DeFi possam operar sem aprovação regulatória, por conta de sua natureza descentralizada, o mercado DeFi poderia se beneficiar bastante de regulações favoráveis a criptoativos em jurisdições principais.

Caso líderes globais se unam para criar uma estrutura de blockchain global e favorável a cripto, o mercado DeFi está pronto para se tornar uma parte integral da indústria financeira do futuro.

Caso os legisladores tenham dificuldade em formular uma estrutura regulatória favorável, poderemos ver o florescer das DeFi em mercados onde as instituições financeiras tradicionais falharem com grande parte da população.