20 verdades inconvenientes sobre empreender no Brasil
Inspirado pelo artigo do editor do Terraço Pedro Lula Mota, “20 verdades inconvenientes sobre a Bolsa de Valores ” , foi feito um paralelo: apesar da crise econômica que temos atravessado muitas pessoas têm um “sonho grande” de ser dono do seu próprio nariz, mas é necessário saber algumas “verdades” relacionadas a empreender no Brasil.
1 – Sim, você vai abrir um negócio por uma necessidade e não pôr sonho ou uma visão, muitos podem até se enganar, mas nossa cultura é do paternalismo estatal, gostamos da zona de conforto, muitos abrem um negócio pois não conseguem se colocar no mercado de trabalho ou não passaram em concursos públicos, então não se iluda.
2 – Esqueça isso de paixão ou vocação pelo que faz, o que mais importa é se o mercado tem a necessidade e vai pagar pelo produto ou serviço que está oferecendo.
3 – Ser empresário no Brasil, é igual a ser jogador de futebol. A mídia só mostra os casos de sucesso, a grande maioria rala em times pequenos que pagam salários baixos e a grande maioria não dá certo, ou seja, há uma grande ilusão sobre o sucesso. Prepare-se, você vai trabalhar mais de 12 horas diárias com pouco retorno e nenhum reconhecimento.
4 – Lembrando o item anterior, sim, a probabilidade de não dar certo é alta, então não se iluda, somente se prepare para o pior.
5 – O grande culpado de quebrar é o empreendedor mesmo. Não o governo, crise, impostos ou processos trabalhistas. Então tente entender o que leva uma empresa a quebrar.
6 – Em relação ao item anterior, todos o empreendedores estão expostos as dificuldades de empreender no país, ou seja a burocracia é para todos, então faz parte do empreendedor se adaptar em relação às dificuldades do País, quem sempre sai prejudicado é o próprio consumidor, os custos são repassados, por isso muitos itens ficam mais caros em relação aos outros países, pois um bom empresário já coloca na formação de preço do seu produto ou serviço o chamado “custo Brasil”.
7 – Apesar do “custo Brasil” não ser responsável pelo fracasso dos empreendimentos do país, você perde algo precioso, que é o seu tempo. Então se prepare, dependendo do negócio você vai perder um bom tempo indo atrás de papéis e documentos e ficando em filas de departamentos públicos em vez de se dedicar ao seu negócio.
8 – Não se baseie em casos de sucesso, pois nós gostamos dos bem sucedidos, principalmente de palestras de empresários que alcançaram resultados, mas não se iluda, pois muitos dos casos foram fatores que estão fora do seu alcance. Empreendedorismo de palco é muito mais elegante que o empreendedorismo real.
9 – Se quiser estudar, vá ao cemitério dos negócios que não deram certo, lá estará o verdadeiro aprendizado.
10 – Contador não é seu amigo ou analista, ele mais um item burocrático que o governo te obriga a ter. A grande maioria não ajuda e só sabe emitir guias para você pagar, também conhecidos “contadores de guias”.
11 – O que mais importa não é o lucro e sim ROE de um negócio, então tente entender o retorno do seu empreendimento para avaliar se é viável ou não. (Me dá calafrios quando no programa “Negociando com tubarões”, eles perguntam sempre a mesma coisa, “qual é o lucro do seu negócio?”)
12 – Lembre-se caixa é rei, ou seja está ligado diretamente ao capital de giro, no qual faz quebrar uma empresa, então tente entender como gerir, estoque, receber e fornecedores, liquidez é tudo.
13 – O excesso de dinheiro é tão prejudicial quanto a escassez, a probabilidade de se fazer besteira é grande.
14 – Ter um alto imobilizado é a pior tolice, como maquinários, carros e barracões, te descapitaliza (verdade 12) e diminui seu ROE (verdade 11), tudo que você puder alugue ou terceirize. (Lembre-se bancos pagam aluguéis de todas suas agências, então pare de ter sonho de sede própria).
15 – Dívida é igual faca no meio do volante, se você freia , ou seja, se as vendas diminuem, você morre, ainda mais no Brasil que têm os juros bancários mais altos do mundo.
16 – Não confunda Caixa com Lucro; nas palavras do grande mestre Peter Drucker “Há muito tempo que uma empresa pode operar sem lucros por muitos anos, desde que possua um fluxo de caixa adequado. O oposto não é verdade. De fato, um aperto na liquidez costuma ser mais prejudicial do que um aperto nos lucros.”
17 – Sonegar pode até te gerar bons ganhos no início, mas no final só te leva a desgraça, então não se iluda.
18 – A grande maioria das sociedades dão errado, principalmente as igualitárias, então tome cuidado em ter sócios, pois até casamentos acabam.
19 – Planos de Negócios e planejamentos estratégicos no máximo te dão um Norte, mas na maioria das vezes não funcionam, pois só são preparados para o sucesso do negócio e não para seu fracasso.
20 – No início de qualquer negócio a aprendizagem é mais importante que a lucratividade.
Como a maior parte das coisas, em que os recursos são escassos e as necessidades são ilimitadas, empreender se torna uma verdadeira luta constante. Conforme Ben Horowitz [1] escreve no final do seu livro, luta seria a palavra mais correta para definir o que é empreender, especialmente no Brasil, em que o termo “empreendedor” muitas vezes é utilizado como pejorativo, sinônimo de alguém inconveniente por persistir em lutar.
Anderson Pizzutti Bortolotto
Formado em Física pela UEL e Administração de Empresas pela FECEA, como especialização em Engenharia de Produção e Educação Matemática pela UEL. Consultor em Finanças e Controladoria, além de ser professor de Física. Possui mais de 12 anos de experiência na área financeira e controladoria de empresas de grande e médio porte pelo Brasil.
Referências
[1] O Lado Difícil das Situações Difíceis , Ben Horowitz.