1º ano de fundo Market Makers: 19 aprendizados que tive nesse período
O resultado positivo nos alegra, principalmente porque chegamos a ficar 10 pontos percentuais atrás do Ibovespa em novembro, reflexo da reação dos mercados após as eleições (enquanto as ações domésticas derreteram, Vale subiu muito forte).
Conseguir essa virada sem uma mudança brusca na nossa carteira é a prova de que escolhemos bem as teses de longo prazo.
O resultado é legal e temos que comemorar! Mas para nós o que tem sido realmente valioso são os aprendizados obtidos durante essa caminhada e que muitas vezes não são percebidos por quem nos acompanha pelos podcasts e lives que fazemos (quem vê close, não vê corre).
A vida de um podcaster é bem diferente da vida de um empreendedor. O que eu faço e quem eu sou neste 1 ano de Market Makers é muito diferente do Salomão que ficou quase 3 anos à frente do Stock Pickers.
Hoje temos muito mais agilidade e autonomia para criar projetos e conteúdos, desenvolver novos produtos, entre outras coisas. Por outro lado, a responsabilidade de “fazer dar certo” é muito maior, principalmente pela quantidade de pessoas que começam a depender do sucesso do seu negócio.
Fazendo um paralelo com a paternidade (não sou pai, mas ganhei meu primeiro sobrinho semana passada e vejo isso em meu irmão), depois que seu filho nasce é como se girasse uma chavinha na sua cabeça e toda a sua atenção e preocupação fica dedicada àquele serzinho que até 1 dia antes você nem imaginava que poderia amar tanto.
É como eu me sinto com o Market Makers. O Market Makers é meu filho, que assim que nasceu mudou minha forma de encarar e enxergar o meu trabalho. É o tipo de transformação que, por mais estudos de caso que você tenha lido, você só vai absorvê-la e assimilá-la quando você de fato virar “pai” de alguma coisa.
Poderia ter esse papo mais “empreendedor” por horas, mas como o propósito desta newsletter é um insight de investimentos, vamos ao que importa: separei aqui abaixo os principais aprendizados empíricos obtidos nestes 12 meses de investidor/empreendedor.
Estas lições nos trouxeram algum aprendizado novo ou então reforçaram algo que já tínhamos em prática e, por isso, acredito que serão úteis para qualquer investidor que estiver lendo: 1. Ciclos de commodities são mais importantes do que ciclos políticos no Brasil – na verdade, o primeiro ciclo em muitos casos ajuda a explicar o segundo;
2. Modismos vêm e vão no mercado e por mais que saibamos disso, é difícil escapar do “FOMO” (Fear of Missing Out, ou simplesmente “medo de ficar de fora”). Ter documentado quais são os nossos princípios e premissas na hora de escolher uma ação nos ajuda a evitar esses modismos;
3. Caixa e conhecimento são as duas melhores formas de fazer “hedge” numa carteira de ações. Conhecer bem as empresas que investe (e investir nas empresas que conhece bem) vai te proteger daquela sensação de não saber o que está acontecendo com o preço de um papel;
4. Sobre ter caixa: se você está em dúvida ou com medo, é melhor ter caixa. Agora, se é o mercado que está com medo, talvez seja hora de não ter mais caixa;
5. Tornar-se empreendedor me trouxe uma nova percepção dos modelos de negócios das empresas e da importância das pessoas no sucesso de uma empresa. Nos tornamos melhores investidores por sermos empreendedores – e isso também mudou nossa forma de interagir nos podcasts;
6. Quanto mais consensual for uma opinião, mais aquilo já estará “no preço” dos ativos.Você não vai ganhar um dinheirão numa tese que é consensual. As melhores performances da nossa carteira vieram de teses bem de fora do radar: Valid e Vulcabras;
7. Em complemento à ideia acima, adoramos ouvir de um gestor que vê a nossa carteira frases como “Por que raios você investe nisso?” ou “Essa é pequena demais pra mim, eu nem olho”;
8. Discutir/defender as teses da nossa carteira com gestores que têm opiniões contrárias à nossa é um dos exercícios mais gostosos de se fazer. A validação de uma tese (ou a descoberta de que ela não é tão boa assim) é o resultado óbvio deste embate intelectual;
9. “Cada escolha, uma renúncia”. Colocar 10% da carteira em uma ação significa não colocar esse dinheiro em várias outras empresas, ou no BOVA11 ou no “caixa” (CDI). Pense sempre de forma relativa: esse investimento que você escolheu vai trazer uma melhor relação “risco x retorno” na sua carteira do que um CDI, o IBOV ou outras ações?;
10. Não tenha pressa para montar posições grandes, mas não demore muito para fazer pequenos movimentos. Fez os primeiros estudos em uma ação e gostou do que viu? Já coloca um pouco na carteira. Isso nos fez querer saber mais e mais rápido tudo sobre a companhia;
11. Investir em ações não é sobre estar certo, mas sim sobre ganhar dinheiro. Queremos estar sempre certos com nossas investidas, mas não temos o menor pudor ou receio de assumir um erro, zerar uma posição perdedora e partir para próxima;
12. A maior detratora nestes 12 meses do fundo Market Makers FIA foi uma das maiores blue chips de varejo da bolsa. Fazendo o “post mortem”, percebemos que talvez fomos mais pacientes com uma grande empresa e que está muito descontada em relação ao seu histórico do que seríamos com algumas das small caps de nossa carteira. A lição aqui foi “não menospreze a capacidade de mudança de boas histórias em histórias ruins” – e vice-versa;
13. Somos assumidamente value investors, mas adoramos investimentos oportunísticos, onde uma determinada empresa apresenta uma oportunidade pontual de investimento a despeito de seus fundamentos. Algo que Daniel Goldberg resumiu muito bem no nosso podcast como “não é o ‘o que’, mas sim o ‘porquê’;
14. Mercado vai sempre ter um medo pra chamar de seu: já foi o risco “Ucrânia x Rússia”, o risco de guerra nuclear, o risco de supercrise na China, agora tem o risco da economia dos EUA… não digo que esses riscos não devem ser monitorados (é fundamental estar de olho neles!), mas é vital separar o que é sinal e o que é ruído;
15. Dito isso, é preciso ter em mente que o mundo tem ficado “muito estranho” lá fora. As treasuries com vencimento em 10 anos estão acima de 4,5% ao ano (um dos seus maiores patamares em 30 anos). Pensando que a meta de inflação dos EUA é de 2,5%, temos um juro real muito alto lá fora. Isso é péssimo para os mercados de uma forma geral, pois o retorno exigido pelos investidores terá que ser muito maior para compensar o “não-investimento” nas treasuries;
16. Ganhar é sempre bom, mas no mercado é muito importante o “how to”. Entre perder dinheiro mas sabendo por que perdeu e ganhar dinheiro sem saber o motivo, prefiro a primeira opção (óbvio que aqui eu considero que o aprendizado com a perda vai impedir que eu cometa o mesmo erro novamente);
17. Perder dinheiro na bolsa não te faz burro! Todo gestor de um fundo de ações teve uma carreira de sucesso antes de virar gestor, é super inteligente, tem equipes dedicadas a estudar empresas e, mesmo assim, não deixam de perder dinheiro na bolsa. Isso faz parte. Se você tem medo de errar, melhor ficar no Tesouro Selic;
18. Quanto mais você exercita o cérebro, mais rápido será seu processo de tomada de decisão. Isso leva tempo, mas é um aprendizado diário e constante. A dica: leia muito e tome decisões;
19. O ciclo de queda da Selic começou e isso é historicamente positivo para o mercado brasileiro de ações. Não se esqueça dessa premissa, pois isso deve ditar os investimentos de longo prazo no Brasil – assim como qualquer sinalização de que esse ciclo vai parar antes do esperado será bem negativo.