10 teses sobre governança de finanças descentralizadas que você precisa conhecer
Em artigo ao Placeholder, fundo de capital de risco conhecido por seus investimentos em projetos blockchains e serviços da Web 3.0, Mario Laul lista dez teses referentes à governança em redes descentralizadas, desde redes blockchain públicas de camada-base e aplicações (contratos autônomos).
Laul define “governança” como o processo de aplicar qualquer recurso de design ou mecanismo de controle que mantenha e comande um sistema.
1) “A inovação tecnológica e institucional relacionada a blockchain é parte da fase contínua de maturação da Revolução da Tecnologia da Informação (TI), que inclui o surgimento de formas integradas de TI para organização econômica que são digitais, globais e cada vez mais descentralizadas e automatizadas.”
Ele explica que as fases finais de uma revolução tecnológica começam pela transformação da estrutura institucional da sociedade.
A tendência geral para a digitização, computerização e automação incluem blockchain e tecnologias parecidas que precisam de regras formais para coordenar as complexidades de forma mais eficiente.
Mas a tecnologia cripto possibilita que redes distribuídas sejam responsáveis pela administração de informações e favorecimento de transações.
2) “Mercados descentralizados são campos — cenários sociais de produção simbólica e material em que agentes interessados competem e cooperam sobre recursos específicos da rede conforme fornecem e consumem os produtos e serviços disponíveis na rede.”
Laul explica:
A estrutura de um campo específico é determinada pela distribuição desses recursos e, por conseguinte, as relações entre as entidades formam o campo como um todo.
Em redes descentralizadas, isso inclui todos que estão envolvidos no investimento, no desenvolvimento, na operação, na utilização ou até na participação da rede.
A governança é um processo intrínseco à estrutura da rede, inicialmente determinada pelas entidades quando seu lançamento de aproxima.
As ações dos participantes da rede irão ditar o que poderá ser feito, com acréscimo ou diminuição de recursos e, portanto, a evolução estrutural de uma rede é muito afetada pelas regras e normas estabelecidas.
3) “Além das dinâmicas convencionais de mercado, um fator abrangente que direciona a evolução de redes descentralizadas é a tensão entre ideologia, realidade e incentivos financeiros.”
Redes blockchain tendem a compartilhar ideologias específicas, como a autossoberania, acesso permissionado, resistência à censura, software de código aberto e críticas sobre toda a intermediação existente nos mercados tradicionais.
Laul explica que inovadores devem se atentar à reprodução de problemas que suas redes desejam resolver.
Influências técnicas e sociológicas têm um grande papel na governança e no design das redes, apesar de não serem necessariamente dependentes para o sucesso econômico ou adesão em massa das redes.
4) “A governança de redes descentralizadas consiste de quatro componentes principais:
1. liderança, visão e valores que atraem e orientam participantes da rede;
2. regras gravadas nos protocolos de software relevantes;
3. regras e regulamentações externas aos protocolos de software relevantes;
4. coordenação e gerenciamento da comunidade.”
A missão de uma rede é compartilhada em whitepapers, detalhes de lançamento e outras declarações da equipe envolvida no projeto.
Porém, conforme a rede vai sendo utilizada por outras pessoas, aspectos de governança da rede acabam surgindo em seguida, em relação a análises de dados, tokenização, automação e formas inovadoras de votação.
Assim, a comunidade acaba tendo mais voz do que os fundadores do projeto, que visam se diferenciar das grandes empresas tradicionais que têm políticas engessadas e antiquadas.
5) “Sistemas existentes da governança de redes descentralizadas se diferem em dois principais aspectos:
1. se regras sobre a implementação de mudanças aos protocolos de software relevantes estão inclusas no protocolo em si;
2. o nível de formalização e institucionalização de governança fora do blockchain.”
Protocolos são atualizados ao longo do tempo e participantes de redes descentralizadas podem dar sua opinião sobre os próximos passos por meio de votações na própria plataforma.
Em relação à governança fora do blockchain, Laul explica que, apesar de ser mais informal:
incluem ações individuais não coordenadas, conversas privadas, eventos públicos, interações on-line (principalmente em plataformas de redes sociais onde circulam materiais e memes), atividades de diversas entidades jurídicas contribuem à rede, bem como os mecanismos de votação e tomada de decisão, independente da governança dentro do blockchain.
6) “Evitar mudanças ao software e outros parâmetros do sistema ajuda a preservar tendências sistêmicas existentes; alterar parâmetros de software ou de outros sistemas pode apresentar novos fatores de risco, mas também é uma ferramenta poderosa para disponibilizar novas tendências sistêmicas.”
Por prezar pela descentralização, onde tanto desenvolvedores como usuários tentam chegar a um consenso, vários protocolos tendem a aderir a um conjunto específico de regras que podem prejudicar a capacidade de evolução e melhoria da rede
Laul explica que a apresentação de opções legítimas em sistemas mais dinâmicos de governança podem ser mais adaptáveis, apesar de instáveis, já que as percepções mudam e novos riscos e desafios podem surgir.
7) “Uma boa governança em redes descentralizadas é uma que comanda a rede por meio de diversos estágios de desenvolvimento em direção a funções mais inovadores e socialmente úteis enquanto soluciona, de forma adequada, conflitos entre diferentes pessoas que participam ou são afetadas pela rede.”
Laul argumenta sobre a necessidade de adaptação e evolução, “o que pode ser difícil por questões de conformismo, inércia estrutural e mecanismos de defesa bem-organizados de interesses enraizados”, conflito presente em redes descentralizadas.
Apesar desses desafios, “uma boa governança de rede alinha os interesses de todos os participantes por meio de um sistema flexível o suficiente de verificações e equilíbrios”.
Assim, redes que conseguem lidar com conflitos e ouvir todas as partes poderão criar uma importante estrutura administrativa com uma grande base de usuários.
8) “Em redes que adotam um sistema formal de governança, distribuir a autoridade para a tomada de decisões entre diferentes participantes, incluindo os usuários finais da rede, é uma forma eficaz de descentralização e uma proteção contra o abuso de um poder concentrado.”
Cada rede possui três grupos principais — especialistas, investidores com interesse financeiros na rede e usuários — que representam formas democráticas de governança — tecnocracia, plutocracia e democracia.
Apesar de existirem diversas plataformas, Laul afirma que ainda não foram exploradas e apresentam inúmeras perguntas difíceis, como qual decisão requer um voto popular ou se soluções de votação suficientemente seguras e preservadoras de privacidade estão disponíveis na plataforma.
9) “A qualidade da tomada de decisão de não especialistas na governança da rede é fortemente influenciada pela comunicação política — uma tarefa que requer profissionalização.”
Laul afirma que apesar de esse ser “o mundo das políticas de rede, onde diferentes participantes buscam por apoio popular a suas ideias e planos”, é improvável que grande parte dos usuários participem de aspectos cotidianos ou mais técnicos se já estiverem satisfeitos com o que foi apresentado.
Mas ele afirma existirem benefícios na autonomia de usuários e do debate público, pois ajudam a conter futuras crises da rede.
10) “Redes descentralizadas com modelos de governança que são mal definidos ou extremamente complexos e necessitam de muitos recursos tendem a estar em grande desvantagem em relação a redes adversárias que otimizam o esclarecimento de procedimentos, a simplicidade e automação inteligente com proteções de emergência.”
No último item, Laul afirma que modelos inconsistentes de governança dificultam a coordenação dos participantes sobre o que poderá ser feito em diferentes situações, resultando em bifurcações (divisão de protocolos quando não há mais consenso entre seus participantes):
Um método popular para tornar a governança de redes descentralizadas mais eficiente é a automação — qualquer técnica que reduza a necessidade de assistência humana na realização de uma tarefa ou conclusão de um processo.
Porém, mecanismos automatizados de governança sempre devem ser avaliados com base nas tendências sistêmicas por eles promovidas e reforçados com proteções adequadas para lidar com situações de emergência causadas por falhas catastróficas no software ou outros eventos extremos.