0,50 pp é coisa do passado: Banco Central deve ser conservador com a Selic até 2025
O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, alinhado com parte do mercado.
Este é o primeiro corte desta magnitude na taxa básica de juros desde que o Banco Central deu início ao seu afrouxamento monetário. Antes disso, foram seis cortes de 0,50 pp. Com isso, a Selic passa de 10,75% para 10,50% ao ano — trata-se do menor patamar de juros desde março de 2022.
Em seu comunicado, a autoridade monetária destacou que conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento. Além disso, as expectativas de inflação estão desancoradas e o cenário global é desafiador.
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“O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela”, diz o texto.
Tatiane Metzler, especialista em investimentos do Ailos – Sistema de Cooperativas de Crédito, destaca que os cenários ainda instáveis da economia brasileira e os juros elevados nos Estados Unidos foram os fatores que levaram a essa redução no corte da taxa Selic.
“O cenário está bem diferente desde o início dos cortes da taxa em agosto de 2023. Em janeiro deste ano, as projeções futuras do Boletim Focus divulgado pelo BC, previam uma Selic a 8% no final de 2024, cenário este que já se elevou, e alguns economistas já esperam por um fechamento próximo aos 10% a.a.”, afirma.
Já Rogério Mori, economista-chefe da Davos Investimentos, lembra que este corte de 0,25 pp contrariou o posicionamento anterior do próprio Banco Central, que indicava a intenção de continuar reduzindo a taxa em 0,50 pp.
No entanto, ele destaca que este corte menor está mais alinhado com um cenário que se deteriorou ao longo dos últimos 45 dias.
“É importante ressaltar também que os eventos ocorridos no sul do país devem afetar a oferta de produtos, especialmente no setor agropecuário, o que exercerá uma pressão adicional sobre os preços. Diante deste conjunto de fatores, o Copom optou por adotar uma postura mais conservadora neste momento, realizando um corte de apenas 0,25 ponto percentual na taxa de juros. Esta decisão é consistente e conservadora em um contexto de cenário mais incerto”, afirma.
Cortes na Selic serão mais cautelosos
Com essa mudança no cenário econômico, os investidores podem se preparar para um afrouxamento monetário mais lento.
Raphael Vieira, co-head de investimentos Arton Advisors, destaca que a autoridade monetária deixa aberto que os próximos passos dependem da expectativa e da ancoragem dos números de inflação. Trazendo assim um tom bem mais hawkish do que nos últimos comunicados.
De fato, no comunicado, o Banco Central evita projetar o reajuste da próxima reunião, marcada para junho. Ou seja, não houve um guidance para a proxima reunião.
“Para as próximas reuniões, a expectativa é de que o Copom mantenha a cautela, monitorando de perto a evolução da inflação e das expectativas. A continuidade do ciclo de cortes dependerá da consolidação do processo de desinflação e da ancoragem das expectativas”, afirma Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital.
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Banco Central está rachado
Outro ponto que chamou a atenção foi a divisão no encontro do Copom. Votaram por uma redução de 0,25 pp os seguintes membros do Comitê:
- Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente)
- Carolina de Assis Barros
- Diogo Abry Guillen
- Otávio Ribeiro Damaso
- Renato Dias de Brito Gomes
Por outro lado, votaram por uma redução de 0,50 pp os seguintes membros:
- Ailton de Aquino Santos
- Gabriel Muricca Galípolo
- Paulo Picchetti
- Rodrigo Alves Teixeira
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, aponta que a decisão dividida deflagrou uma ala mais conservadora vitoriosa nessa reunião e indicada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ante um grupo mais pró-juros baixos — indicado pelo atual presidente Lula.
“A divisão entre Bolsonaro e Lula também pode ser entendida como os diretores que estão de saída do board (hawkish) e os que permanecerão na diretoria pelos próximos anos (dovish). Assim, teremos que dividir nossa perspectiva em duas. A primeira de curtíssimo prazo, onde avaliamos que o comitê, em seu comunicado, foi hawkish por maioria, conduzindo-nos a projetar uma interrupção do ciclo baixista de juro em 10,50%”, afirma.
Para o economista, o grupo dovish está insatisfeito com o ritmo do pace, o que em final de ciclo traz implicações para a taxa terminal, sendo que o ciclo baixista de juro deverá ser retomado a partir da primeira reunião de 2025.
“Apostamos que a partir de janeiro, quando os indicados por Lula formam maioria, deveremos ter uma retomada do ciclo baixista”, destaca.