Futebol

‘Devolver o estádio’, SAF ou RJ?; qual a solução para a dívida bilionária do Corinthians?

22 jun 2024, 10:00 - atualizado em 23 jun 2024, 6:24
corinthians saf
Apesar de contar com uma forte geração de caixa, as receitas do Corinthians são todas voltadas ao pagamento de dívidas e custos do clube (Foto: Flávya Pereira/Money Times)

Durante o Sports Market Makers da última semana, o economista e idealizador do Relatório Convocados 2024, Cesar Grafietti, quando perguntado sobre a situação financeira mais delicada entre as equipes da elite nacional do futebol brasileiro, citou o Corinthians.

A Outfield, ecossistema de investimentos, com estratégias e soluções focados em negócios do esporte no Brasil e América Latina, participa do estudo que faz um verdadeiro raio-x do balanço financeiro dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro.

De acordo com o relatório, o problema do clube não está na operação, já que 2023 foi um ano com boa geração de caixa, com receitas crescentes e custos que se comportaram relativamente bem.

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“O problema fica por conta da perspectiva. É um clube com R$ 1 bilhão de receita, que tem de lidar com uma dívida enorme do estádio e do próprio clube, e o comportamento da gestão do clube não é de quem quer resolver o problema. A nova diretoria devia ter assumido e fazer o que fez o Flamengo, passar 2 ou 3 anos reestruturando o clube, para que lá na frente o clube consiga resolver esse problema, algo possível com essa receita”, explica.

Entre os clubes com um cenário financeiro complicado, o economista também citou Fluminense, Atlético-MG e Internacional, assim como o Santos, hoje na Série B.

Sendo assim, o relatório aponta que a grande dificuldade do Corinthians é lidar com os custos financeiros, seja do clube, como da arena, com valores em torno R$ 1,824 bilhão. “A geração de caixa é insuficiente, e o clube usa estratégias como atrasar encargos e salários, como é visto recorrentemente no aumento dos parcelamentos, e no prazo de pagamentos. O resultado é o aumento recorrente das dívidas, num círculo vicioso sem fim”, apontam no relatório.

SAF e recuperação judicial são alternativas?

Os apresentadores do Sports Market Makers perguntam sobre a possibilidade, a partir da profissionalização do esporte no Brasil, de uma recuperação judicial, algo que acontece com empresas, assim como a “Lei da SAF Sociedade Anônima do Futebol)”, criada em agosto de 2021.

“Já houve algo parecido no Corinthians com mecenato ou SAF na época da MSI, em 2005, que já era um prenúncio de SAF, obviamente com todas as limitações. A SAF do Atlético-MG, por exemplo, começou como um mecenato e o resultado foi obrigatoriamente se tornar uma SAF. Sinto que para o Corinthians não é ideal alguém colocar recursos no clube, comprando politicamente esse espaço, para depois virar uma SAF”, afirma Grafietti.

Segundo Marcelo Godke, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Empresarial, clubes com, pelo menos, dois anos com SAF constituída, tem direito de pedir recuperação caso tiver sujeito a um eventual pedido de falência. Entretanto, outros clubes sem SAF constituída (os chamados “clubes-empresas”) passaram a ter esse direito.

“Havia uma proibição de entes não empresariais ou empresários de pedir recuperação, só que alguns grupos que eram feitos na forma de sociedade sem fins lucrativos, ou entidades, melhor dizendo, entes sem fins lucrativos, associações, algumas entidades religiosas que também, em tese, não têm fins lucrativos, clubes e agremiações, começaram a pedir recuperação judicial e, como o judiciário passou a entender que havia ali uma atividade econômica (ainda que não fosse na forma de uma atividade de empresa), elas deveriam também poder usufruir da possibilidade de pedir a recuperação judicial. A jurisprudência modulou isso e flexibilizou muito as restrições à lei”.

Uma recuperação judicial começa com um pedido a ser feito pelo devedor para que seja iniciado o processo de recuperação. “O devedor, no caso, o clube de futebol vai explicar o que ele faz, que adere aos requisitos da lei. É preciso explicar de onde vem a crise, e se atende aos requisitos objetivos para pedir que seja iniciado o processo de recuperação”, explica Godke.

Qual a solução para a dívida do Corinthians?

O relatório aponta que o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do clube em 2023 foi de R$ 271 milhões, um crescimento significativo na comparação com os R$ 176 milhões de 2022, na ordem de 53,98%, o que mostra a capacidade de geração de caixa do clube.

No entanto, o resultado financeiro do clube ficou negativo em R$ 225 milhões no ano de 2023. “Só o estádio foi R$ 90 milhões desse total. Com isso, essa geração de caixa é enganosa porque as receitas estão todas travadas para pagar essas dívidas e esses custos financeiros. Na verdade, o dinheiro nem entra no caixa”, aponta Grafietti.

Na visão de Lucas de Paula, co-fundador da Outfield, o torcedor brasileiro tem cobrado melhores práticas de governança nos clubes, o que trabalha a favor do futebol nacional. Para a solução da dívida do Corinthians, de Paula cita um duro remédio para o clube.

“A não ser que exista um ‘coelho na cartola’, eu devolveria o estádio. Você começaria a sanar suas dívidas de curto prazo e começar a pensar um pouco mais no futuro. Mas essa devolução não pode acontecer sem uma troca de governança do clube. É preciso um bom departamento comercial, saber quem fala com o mercado, um bom sócio torcedor e bilheteria, e não é isso que acontece no Corinthians hoje. Esse choque de governança precisa acontecer”, diz.

Ainda assim, o co-fundador da Outfield ressalta que isso não deve resultar em efeitos imediatos e lembra do caso do arqui-rival. “Quando o Paulo Nobre assume a presidência do Palmeiras em 2013, o clube quase cai em 2014, logo após conseguir o acesso vindo da série B em 2013. O pessoal esquece disso, mas o clube só se livra do rebaixamento na última rodada. É complexo, o clube precisa por esse ‘ano de barriga’ para ter a abundância nos anos subsequentes”, comenta.

Confira o trecho sobre a gestão do clube

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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